30 de março de 2012

Neuromancer

Não é por acaso que Neuromancer (1984), de William Gibson, é considerado uma das obras mais influentes da ficção científica dos últimos 30 anos. Responsável pela definição do cyberpunk (de certa forma, e sobretudo do ponto de vista estético, antecipado dois anos antes no cinema com Blade Runner, de Ridley Scott), Neuromancer abriu as portas a um género que, tanto na literatura como no cinema, viria a tornar-se particularmente rico, afastando-se das sagas espaciais (space operas) que se tinham tornado numa das principais imagens de marca do género. Gibson trouxe a acção de volta para o nosso planeta, num futuro sombrio onde mas mais sofisticadas tecnologias se combinam com as formas mais alternativas - e, por vezes, degradantes - de vida.

Neuromancer tem em Case o seu protagonista. Case fora em tempos hacker, um ladrão de informação no ciberespaço (cowboy é o termo utilizado), mas um trabalho que correu mal custou-lhe a sua capacidade de se ligar à rede. Uma proposta irrecusável oferece-lhe o que ele mais ambiciona - a restituição das suas capacidades. Em troca, apenas tem de se aliar a uma misteriosa mulher chamada Molly e executar um roubo particularmente sofisticado. E a partir deste ponto arranca uma narrativa vertiginosa, uma trip permanente, como se as drogras que as personagens consomem em quantidades generosas também actuassem no leitor; Gibson, à semelhança de outros autores (Burguess, em A Clockwork Orange, por exemplo), desenvolve uma linguagem muito própria, assente num misto de calão com erros deliberados que conferem à narrativa um carácter particularmente coloquial, e frequentemente alucinado. Toda a trama é narrada a partir de um caos narrativo que apenas na aparência é aleatório, e à medida que a história avança, as pontas soltas vão-se fechando em redor do mistério que ela encerra. O ritmo é rápido, frenético, e extraordinariamente eficaz - obriga o leitor a querer ler mais e mais. Um clássico.

Nota: A imagem é a capa da edição brasileira de Neuromancer. De todas as capas que encontrei, esta é de longe a melhor - aliás, em termos gerais é mesmo uma das minhas ilustrações de capa preferidas.

Adaptado deste post do Delito de Opinião.

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