19 de março de 2013

Airplane II - The Sequel, ou quando a ficção científica cinematográfica cabe (quase) toda num vaivém comercial

McCroskey: Jacobs, I want to know absolutely everything that's happened up till now. 
Jacobs: Well, let's see. First the Earth cooled. And then the dinosaurs came, but they got too big and fat, so they all died and they turned into oil. And then the Arabs came and they bought Mercedes Benzes. And Prince Charles started wearing all of Lady Di's clothes. I couldn't believe it.

- Airplane II - The Sequel

Não há deixas destas nas comédias feitas hoje em dia. Admito: tenho um soft spot pelas comédias dos anos 80 e dos inícios dos anos 90, aquelas com pouco nexo e muito slapstick. Filmes como The Naked Gun, Hot Shots! e outros do género, paródias assumidas a clássicos do cinema e da televisão com um humor tão característico daquela época - e, em certos momentos, tão politicamente incorrecto à luz dos padrões actuais. Desta geração de filmes, Airplane! terá sido porventura o melhor, com a sua hilariante sátira aos filmes-desastre; e a sua sequela directa, Airplane II - The Sequel, levou essa sátira para o espaço e tomou como alvo a ficção científica.

E fê-lo com uma premissa simples e um enredo simples q.b. (se é que um filme desta natureza precisa de um enredo - na prática, um motivo basta, e nem é necessário que seja bom). Em Houston, "no futuro", prepara-se a viagem do Mayflower I, o primeiro vaivém comercial que levará passageiros para a base e colónia lunar de Alfa Beta. A partida da nave está ensombrada pela falha durante os seus testes, cujas culpas foram atribuídas ao piloto Ted Striker (Robert Hays a reinterpretar o papel do primeiro filme), julgado e confinado a uma instituição psiquiátrica. Ted, porém, sabe que o vaivém foi sabotado, e consegue um lugar para a viagem. Mas tudo começa a correr mal quando ROK, o computador de bordo, enlouquece e começa a matar a tripulação...

Este ténue e convulso enredo é apenas um pretexto para uma série de 85 minutos de gags praticamente sem pausas - a partir da introdução feita no tão característico opening crawl que Star Wars celebrizou praticamente não há uma cena em que, em primeiro ou segundo plano, esteja a ocorrer um momento de comédia, por discreto que seja (e, diga-se de passagem, raramente o é). Há de tudo: o E.T. a tentar telefonar para casa, uma paródia muito divertida a HAL-9000 e a outros momentos de 2001: A Space Odyssey, a Mission Impossible, a Godzilla, a Star Trek - até há uma referência (talvez coincidência?) algo subtil a The Hitchhiker's Guide to the Galaxy. A primeira parte do filme será sem dúvida a melhor, mas a entrada em cena de William Shatner, com alusões hilariantes ao Capitão Kirk que ele mesmo interpretou e celebrizou, refresca o filme e dá novo ritmo à narrativa. 

É certo que Airplane II - The Sequel fica muito aquém do original, porventura a melhor comédia do seu género. Muitas piadas mais não são do que reencenações das piadas do primeiro filme, não tendo por isso a mesma frescura - ao ponto de, num momento genuinamente divertido, Elaine (Julie Hagerty) comentar com Striker que tem a sensação estranha de já terem passado "por uma situação exactamente igual". Da parte que me toca, não me queixo: em miúdo, os inúmeros gags de Airplane II - The Sequel fizeram-me rir vezes sem conta, e revê-lo há um par de anos fez-me rir uma vez mais ao identificar os vários filmes parodiados (sobretudo 2001). Não será a mais inspirada das comédias, mas fica como referência na ficção científica cinematográfica, onde as gargalhadas não abundam. E, acima de tudo, serve para relembrar um formato de comédias que já não tem lugar no cinema contemporâneo. O que, diga-se de passagem, é uma pena - hoje em dia não se fazem diálogos como aquele que abre este texto. 6.1/10

Airplane II - The Sequel (1982)
Realizado por Ken Finkleman
Com Robert Hays, Julie Hagerty, Lloyd Bridges, Peter Graves, Chuck Connors, William Shatner e Stephen Stucker
85 minutos

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