20 de fevereiro de 2013

Tolkien: Construtor de Mundos(1): Análise geral do seminário

Muitas coisas boas acontecem mais ou menos por acaso - e, a fazer fé nos professores José Varandas e Nuno Simões Rodrigues, da Faculdade de Letras e do Centro de História da Universidade de Lisboa, a ideia de organizar um seminário sobre Tolkien surgiu de um acaso, sendo desenvolvida a partir daí com a colaboração da professora Angélica Varandas e com o Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa (que, a título de curiosidade, em Novembro último organizou a segunda edição do seminário "Mensageiros das Estrelas"). Tolkien: Construtor de Mundos foi o título escolhido para esta primeira edição do seminário (irá haver uma segunda para o ano, em princípio) que procurou analisar e debater a obra de Tolkien - e não apenas aquela que se tornou mais conhecida por via da literatura e das adaptações cinematográficas e televisivas, mas também a outra, a académica e erudita, menos popular mas igualmente relevante.

Começando pelo comentário mais genérico: a qualidade das sessões surpreendeu-me muito pela positiva - e isso não se deveu apenas à presença da professora Maria do Rosário Monteiro e do professor/anfitrião José Varandas, que não conhecia (mas já lá irei). Algumas sessões a que assisti no "Mensageiros das Estrelas" fizeram-me recordar alguns dos piores aspectos da minha passagem pela universidade - a saber, ver um professor a limitar-se a ler aquilo que levou anotado para a aula, sem qualquer rasgo ou capacidade de improvisação ou de análise crítica com a turma ou o público. Houve, de facto, bastante leitura durante várias sessões deste seminário (old habits die hard), mas houve acima de tudo muito diálogo sobre muitos aspectos mais ou menos conhecidos do legado que Tolkien deixou a leitores e a académicos (para além de a qualidade da leitura ser superior, o que ajuda). Falou-se imenso, como não poderia deixar de ser, de The Hobbit e de The Lord of the Rings - houve até um painel muito interessante sobre as adaptações cinematográficas. Mas também se falou muito (para meu deleite) de The Silmarillion e dos mitos da Terra Média, normalmente arrumados na área dedicada aos "fãs" mais acérrimos. E nem o trabalho académico de Tolkien, com sessões que incidiram a sua produção ensaística e o seu trabalho com Beowulf e com outros textos muito antigos.

Ao longo do dia, falou-se de temas tão diversos como a simbologia do Anel, as florestas na Terra Média, a literatura literária e o "encantamento", as ilustrações do imaginário de Tolkien, a criação de mundos ficcionais, o Mal, as questões narrativas e de género, as suas adaptações televisivas e sobretudo cinematográficas, aspectos menos conhecidos do seu legado, as (possíveis) influências medievais e as questões mitológicas. Houve tempo para apresentações com sentido de humor e para alguns debates laterais muito interessantes (como a inspiração e a simbologia de Galadriel). Tal como referi ontem, ao longo de todo o dia o auditório esteve sempre cheio - e, à partida, para o ano o seminário contará com a sua segunda edição. 

Para evitar fazer um artigo demasiado longo sobre as várias sessões, vou repartir os conteúdos por vários artigos que serão publicados ao longo dos próximos dias (em princípio um por dia, mas não garanto). O próximo será sobre as duas primeiras apresentações do dia, que incidiram respectivamente sobre a temática do Anel enquanto elemento simbólico e nas florestas em Tolkien, com destaque para as élficas. 

(continua)

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