9 de outubro de 2012

A ficção científica e o cinema: Eternal Sunshine of the Spotless Mind

Não é necessário termos naves espaciais, invasões alienígenas, distopias futuristas, vastas realidades virtuais e inteligências artificiais sofisticadas - para mencionar algumas tropes mais emblemáticas - para desenvolver uma narrativa de ficção científica interessante e cativante. Por vezes, basta uma ideia simples, desenvolvida numa premissa subtil que suporta, sem assumir o protagonismo, toda uma estrutura narrativa coerente. É exactamente isso que acontece naquele que, para mim, foi um dos melhores filmes de ficção científica da última década: Eternal Sunshine of the Spotless Mind.

Realizado por Michel Gondry e com argumento premiado de Charlie Kauffman, Eternal Sunshine of the Spotless Mind começa com o encontro acidental de Joel Barish (Jim Carrey) e Clementine Kruczynski (Kate Winslet) num comboio. Para todos os efeitos, Joel e Clementine conhecem-se naquele momento - mas, na verdade, conheceram-se há já algum tempo, apaixonaram-se e mantiveram durante algum tempo uma relação que não correu pelo melhor. Clementine acabou por recorrer aos serviços de uma empresa intitulada Lacuna, Inc, para apagar da sua mente todas as memórias da relação. Ao saber disso, Joel decide fazer o mesmo - e, ao longo do filme, assistimos ao processo de eliminação das suas memórias à medida que estas são recordadas (vendo assim a história daquelas duas personagens), e ao esforço que, a meio do processo, Joel faz para preservar nem que seja apenas uma das memórias dos tempos felizes que viveu com Clementine.

De forma lateral mas não sem importância, o filme acompanha vários funcionários da Lacuna, Inc., durante o processo de eliminação das memórias de Joel - das tentativas de Patrick (Elijah Wood) de conquistar Clementine através do conhecimento que tem da relação com Joel ao caso amoroso que Mary (Kirsten Dunst) mantém com Howard (Tom Wilkinson), o director da Lacuna, Inc.. Estas narrativas secundárias convergem no enredo principal e têm um impacto directo na história de Joel e Clementine, precipitando um desfecho que, não sendo imprevisível, acaba por se revelar muito satisfatório. 

Com um argumento inteligente e especialmente bem escrito de Kauffman - vencedor de um Óscar para Melhor Argumento Original, Eternal Sunshine of the Spotless Mind é um filme notável, suportado pelos extraordinários desempenhos de Jim Carrey (surpreendente num papel denso e dramático) e de Kate Winslet (num papel que, com justiça, lhe valeu mais uma nomeação para o Óscar de Melhor Actriz Principal), e um elenco secundário muito sólido, onde se destacam Elijah Wood e Kirsten Dunst. A ideia de as memórias poderem ser apagadas a pedido funciona de forma perfeita nesta história amorosa - uma premissa interessante que sem se colocar no caminho da narrativa, lhe dá o plot device fundamental para sustentar uma narrativa fragmentada e construída de forma brilhante, com algumas cenas inesquecíveis. É um dos grandes filmes dos anos 00 - na ficção científica e não só. 8.7/10


2 comentários:

Jorge Teixeira disse...

É uma referência do género (e não só) da última década, sem dúvida. Não o idolatro tanto (até porque já o vi há muito tempo e preciso de o rever), mas do que me lembro tem um argumento a todos os níveis muito bom, assim como interpretações brilhantes.

Cumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo

João Campos disse...

Vale essencialmente pelo argumento e pelos actores - mesmo os secundários (Kirsten Dunst e Elijah Wood) estão muito bem, mas Jim Carrey e Kate Winslet estão soberbos.

Vi o filme pela primeira vez há relativamente pouco tempo (no último ano), mas entrou directamente para o meu top 50.