6 de julho de 2012

The Fall of Hyperion

Nos artigos que publico sobre livros raramente escrevo sobre sequelas. O motivo é simples: dificilmente se consegue escrever alguma coisa sobre o enredo de uma sequela sem revelar alguns elementos da obra que deu início à série (spoilers, se quiserem). Abro hoje uma excepção para falar de The Fall of Hyperion, de Dan Simmons (1990). 

Mais do que uma sequela, The Fall of Hyperion é a segunda parte do premiado Hyperion, desenvolvendo a narrativa no universo previamente explorado e estabelecido através das histórias pessoais dos peregrinos do Shrike durante a sua longa viagem por Hyperion. Se nas narrativas individuais ficamos a conhecer os vários elementos que compõem o puzzle que envolve aquele planeta remoto, as motivações de cada uma das personagens e o papel que cada uma delas tem a desempenhar no enigma de Shrike e das Time Tombs. 

Não esperava que The Fall of Hyperion superasse a fasquia estabelecida pelo seu antecessor, obra a todos os níveis excepcional. A grande força de Hyperion reside nas histórias individuais dos seis peregrinos, todas tão diferentes no tom e no tema como os próprios peregrinos entre si; e à sua maneira, cada história é fascinante e absorvente, da aventura militar de Fehdman Kassad ao drama familiar de Sol Weintraub, da investigação cyberpunk-noir de Brawne Lamia à odisseia épica de Martin Silenus, da história de horror de Lemar Hoyt ao registo histórico do Cônsul. Esta fórmula é brilhante, e do ponto de vista narrativo funciona de forma perfeita; no entanto, é absolutamente impossível de repetir. Dan Simmons teve perfeita noção disso, e em The Fall of Hyperion mostrou que a "frame story" não era o único truque narrativo que tinha na manga. Ao apresentar toda a história através do ponto de vista de uma única personagem, Simmons consegue duas coisas em simultâneo: afastar-se das fórmulas de narração convencionais, mantendo a narrativa refrescante e original, e abranger de forma muito interessante vários pontos essenciais da trama, colocando no seu centro uma personagem secundária que se torna num espectador privilegiado do imprevisível conflito que envolve a Hegemony, os Ousters e o AI TechnoCore. 

É certo que The Fall of Hyperion, apesar de ter um enredo mais directo que o seu antecessor, nem sempre consegue a fluidez narrativa original, devido sobretudo às frequentes alusões às histórias já conhecidas e à dispersão por vários pontos distintos da narrativa. Nem por isso, contudo, deixa de ser uma leitura extraordinária - o universo criado por Simmons é extremamente rico e complexo, repleto de referências literárias, religiosas e mitológicas, de imagens poderosas (como a árvore de Shrike e o planeta de God's Grove, por exemplo) e de reviravoltas por vezes vertiginosas. Se a primeira parte do livro é algo lenta, a segunda ganha um ritmo muito bom à medida que as várias facções e personagens em jogo precipitam um final excelente - e com algumas surpresas - para esta etapa da série Hyperion Cantos

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