5 de junho de 2012

A Ficção Científica e o Cinema: Alien

Na semana que marca o regresso de Ridley Scott à ficção científica com o muito aguardado Prometheus não poderia deixar de escrever algumas linhas sobre a primeira obra-prima do realizador britânico: Alien, de 1979. 

É justo afirmar que Alien (em português, O Oitavo Passageiro - um título particularmente feliz) é um dos grandes clássicos da ficção científica cinematográfica. Numa época em que o género estava essencialmente ligado às space operas, com batalhas espaciais épicas e autênticas odisseias galácticas (como Star Wars), Ridley Scott decide “mudar as regras do jogo” ao fechar a narrativa no interior da nave de prospecção mineira Nostromo, na viagem de regresso, com uma reduzida tripulação de apenas sete elementos. O enredo é simples e sobejamente conhecido: a Nostromo detecta um sinal de socorro enviado de um planetóide próximo e a tripulação decide averiguar a sua origem. Mas a expedição à superfície do planeta, ainda que curta, corre horrivelmente mal, quando Kane (John Hurt) tem um “encontro imediato” com uma forma de vida alienígena desconhecida - que, para espanto e terror da tripulação (e do público, já agora), se vai revelar numa criatura sanguinária.

A premissa em si, ainda que interessante, não parece especialmente inovador - no fundo, resume-se ao proverbial encontro com o desconhecido que assume a forma do Mal. Mas em Alien, o Mal não é consciente ou inteligente - é um predador puro, que existe apenas para matar. Mas o enredo simples revela-se excelente, e a execução do filme é a todos os níveis extraordinária. Alien tem um ritmo narrativo lento mas em momento algum parado, em crescendo até ao momento do ovo na nave do Space Jockey, em novo crescendo até à famosa cena do chestburster e, de seguida, num derradeiro crescendo à medida que a criatura que ninguém vê com nitidez caça de forma metódica os elementos da tripulação um por um. Não há em Alien grandes batalhas ou aventuras - tudo se passa nos corredores e compartimentos escuros, gastos e vagamente claustrofóbicos da Nostromo. E a única coisa que interessa é a sobrevivência. 

É neste verdadeiro jogo do gato e do rato (neste caso, do xenomorph e dos humanos) que surge Ellen Ripley (numa interpretação notável de Sigourney Weaver) como heroína acidental - e a escolha de uma personagem feminina para protagonista de Alien marca também a diferença num género que, à época, dava a primazia sobretudo aos heróis masculinos. Ripley não é comandante da Nostromo, não é uma cientista brilhante ou mesmo uma “mulher de armas” - é uma trabalhadora comum (como, aliás, todos os outros), que se vê confrontada com uma criatura de pesadelo no vazio do espaço. 

Alien fica para história como um clássico da ficção científica e do terror, aspecto para o qual a criatura brilhantemente concebida por H.R. Giger contribuiu de forma decisiva - é uma das mais conhecidas criaturas do género, facilmente identificável mesmo por quem não aprecia ficção científica. O cartaz promocional exibia apenas um misterioso - e estranhamente alienígena - ovo num fundo negro, com a frase in space, no one can hear you scream. Simples, eficaz e certeira - como todo o filme. Vejo Alien hoje e noto que não envelheceu um dia desde 1979. O que não surpreende: afinal, os clássicos não envelhecem. 10/10.

2 comentários:

Pedro disse...

Já viste o Prometheus? Que grande desilusão...

João Campos disse...

Sim, já vi o Prometheus. Falarei sobre ele amanhã.