27 de junho de 2012

Clube de Leitura Bertrand do Fantástico: O Clube Dumas, de Arturo Pérez-Reverte

Decorreu no passado dia 1 de Junho (sim, este artigo está bastante atrasado) a quarta sessão do Clube De Leitura Bertrand do Fantástico, dedicada ao livro O Clube Dumas de Arturo Pérez-Reverte (adaptado para o cinema por Roman Polansky - mas já lá irei). Admito desde já que não li o livro em debate, o que torna bastante mais difícil escrever sobre o que se falou (os anteriores foram relativamente fáceis, pois não só tinha lido os livros como tinha gostado muito deles). Enfim, vamos ver o que se arranja.

O convidado desta sessão foi o escritor David Soares, que assumiu desde logo "não ser um grande fã do livro", que na sua opinião "tenta recuperar a literatura de folhetim do século XIX." Para David Soares, as duas histórias paralelas que compõem a narrativa "não são necessárias", como se o autor tivesse "duas ideias diferentes que tentou unir, de forma a que fizessem sentido". Acrescenta ainda que "o final não se resolveu, pois o facto de cada elemento do clube ser o guardião de um dos capítulos não tem grande impacto". No entanto, reconhece que o livro "tem coisas muito interessantes na contextualização da época de Dumas", e destaca a ambiguidade da personagem feminina, que nunca se sabe se é ou não de origem sobrenatural. Coisa que o filme de Polanski com Johnny Depp, intitulado The Ninth Gate (aludindo a uma das narrativas) resolve logo ao mostrá-la como um demónio.

Como não podia deixar de ser, a adaptação cinematográfica de O Clube Dumas suscitou um debate interessante. David Soares considera o filme como "uma boa adaptação", ao "escamotear a parte do Clube Dumas e se centrar na história das nove portas". Já Rogério Ribeiro (como sempre, a moderar o debate) considerou-o uma má adaptação - e, entre a plateia, as opiniões dividiram-se entre ambas as posições (e, claro, houve ainda quem não tivesse visto o filme).

Saindo do livro de Arturo Pérez-Reverte, David Soares falou um pouco sobre a sua mais recente obra, o Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes, editado pela Saída de Emergência. De acordo com o autor, a génese do livro reside "nos anexos e apêndices do final dos romances, a sua base bibliográfica - e sempre achei que partilhar essas referências seria interessante." Todo o Compêndio é feito de informação factual, sem ficção, "recuperando as intenções das enciclopédias e dos compêndios do século XVIII". A partir desta ideia, recuperou a o conceito da "árvore do conhecimento" para organizar internamente o Compêndio, ramificando-o em quatro "troncos" para quatro temas de que gosta - a História, a Ciência, o Oculto e a Mitologia (onde se inclui a religião). Começa pela História, numa abordagem "relativamente generalista", para passar logo de seguida para a Ciência - ou antes, para "o lado negro da Ciência". No "troco" dedicado ao Oculto, David Soares procurou recuperar alguns conceitos, dando-lhe "bases mais sólidas". Por fim, o "tronco" dedicado à Mitologia inclui um bestiário e aborda, entre outras coisas, "o sobrenatural na cultura popular", sempre "da forma mais fidedigna possível", sublinhando o exaustivo trabalho de fundamentação do material incluído.

David Soares admite vir a fazer um segundo volume, caso este "corra bem". Quanto à ideia de que algumas das histórias incluídas no Compêndio poderiam ser a base para excelentes ficções, reconhece o potencial mas não coloca "para já" a possibilidade de explorar esse filão. O autor traça ainda uma fronteira muito clara entre o "autêntico" e o "provável" na ficção, conceitos que não são de todo sinónimos.

Sobre a sua carreira literária, David Soares explicou que o seu processo de escrita funciona por "ciclos", normalmente de três romances que encerram o ciclo, mas não o universo autoral - sendo o ciclo seguinte uma "outra forma de olhar para os mesmos temas". Falou ainda sobre a internacionalização da sua obra, sobre a excelente relação que mantém com a sua editora, a Saída de Emergência, e sobre como viver da escrita - algo que, na sua opinião, requer "espírito de missão" e "ter vontade" (pois "ter só ideias não funciona"), não só para começar mas para levar a obra até ao fim.

Finda a sessão, decorreu, como é habitual, a Tertúlia Noite Fantástica, desta vez no restaurante Chez Degroote - e, pessoalmente, julgo que foi a melhor Tertúlia até agora, tanto pela qualidade do restaurante como pelas conversas.

Quanto ao Clube de Leitura Bertrand do Fantástico, a próxima sessão terá lugar no dia 6 de Julho e incidirá sobre o livro O Império do Medo, de Brian Stableford (publicado pela Saída de Emergência). O convidado será o escritor João Barreiros, que também falará (entre muitas outras coisas, certamente) do livro Se Acordar Antes de Morrer (publicado pela Gailivro em 2010). A moderação estará a cargo, uma vez mais, do Rogério Ribeiro.

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