16 de março de 2012

The Snow Queen


A FilmPuff pediu-me uma sugestão de um bom livro de ficção científica para quem quer começar a ler alguma coisa dentro do género. Há muitos livros que poderia sugerir - Nightfall, de Isaac Asimov, seria um deles (e poupava-me trabalho, que já tenho o texto escrito. Mas deixarei esse para outro dia; o livro que recomendo para uma introdução à ficção científica é também o primeiro livro do género que li: The Snow Queen, de Joan D. Vinge. 

Baseado no conto homónimo de Hans Christian Andersen, The Snow Queen apresenta uma história cativante suportada por excelentes personagens num universo de ficção científica particularmente bem imaginado. Joan D. Vinge venceu o prémio Hugo com este livro em 1981, e isso não foi obra do acaso. Num futuro muito distante, uma civilização humana - a Hegemonia - ergue-se por entre os escombros do antigo Império. Perdida a tecnologia para viajar no espaço a velocidades superiores à da luz, os oito planetas que compõem a Hegemonia utilizam wormholes (buracos negros) para comunicarem entre si. Mas no planeta onde a acção começa - Tiamat - há uma particularidade: a cada 150 anos, os sóis gémeos que permitem a vida no planeta aproximam-se do buraco negro e tornam a travessia impossível, na prática eliminando durante o longo "Verão" qualquer contacto entre os habitantes de Tiamat, os restantes membros da Hegemonia, e a tecnologia que estes trazem.

Esta particularidade tem um impacto profundo na cultura de Tiamat: sendo um mundo essencialmente coberto por oceanos, encontra-se dividido entre dois grandes clãs. Os clãs de Verão são mais supersticiosos e levam uma vida mais ligada à Natureza - abominam a tecnologia e vivem daquilo que o mar lhes dá. Durante o longo período de Verão em que a comunicação de Tiamat com o exterior é impossível, migram para Norte e elegem as sucessivas Rainhas de Verão que governam o planeta. Já os clãs de Inverno procuram retirar o máximo partido da tecnologia que os estrangeiros trazem durante o longo Inverno, período durante o qual a Rainha de Inverno domina por completo os destinos do planeta. E é justamente uma única Rainha de Inverno que governa Tiamat durante o longo Inverno de 150 anos. 

Isto deve-se à única riqueza de Tiamat: o sangue dos mers, dóceis criaturas aquáticas que durante o Inverno são caçadas quase até à extinção por ordem da Rainha de Inverno. O motivo é simples: o sangue dos mers permite a juventude eterna a quem o tomar constantemente, e é por ele que os povos da Hegemonia regressam constantemente a Tiamat, e efectivamente mantém o planeta num estado atrasado e semi-bárbaro. 

A história de The Snow Queen centra-se essencialmente em duas personagens: Moon Dawntreader Summer, uma jovem rapariga dos clãs de Verão que na sua jornada para se tornar numa sibila (uma mensageira da divindade de Verão capaz de responder a qualquer pergunta que lhe seja colocada) acaba por se envolver numa trama que a levará onde nenhum outro habitante de Tiamat alguma vez chegou; e Arienrhod, a poderosa Rainha de Inverno, eternamente jovem, e decidida a não olhar a meios para conservar o seu poder após a partida dos estrangeiros no próximo ritual de Mudança. Entre as duas está Sparks Dawntreader, namorado de Moon e dividido entre a sua herança materna, de Verão, e paterna, de outro planeta da Hegemonia. 

Esta descrição é meramente o contexto e o ponto de partida de The Snow Queen. A partir daqui tem início uma narrativa intensa, acompanhando Moon na descoberta da sua própria identidade e do seu destino inescapável, e Arienrhod na sua tentativa de mudar Tiamat mantendo tudo exactamente como está - enquanto descobrimos alguns dos segredos mais bem guardados daquele estranho mundo. The Snow Queen é a primeira parte de uma série composta por duas sequelas (World's End, de 1984, e The Summer Queen, de 1991) e uma prequela (Tangled Up in Blue, de 2000). Sem ser hardcore sci-fi, é uma história de ficção científica bastante sólida, com vários elementos definidores do género. Merece a leitura, tanto o livro por si só ou a série inteira (ainda que hoje em dia seja relativamente difícil de arranjar - há traduções em português, mas são de fugir).

6 comentários:

Rita Santos disse...

E começas muito bem, tendo em conta que tenho os contos do Hans Christian Andersen cá por casa! Obrigada. :)

joão campos disse...

Excelente. A Joan D. Vinge baseou-se num para escrever este belo livro. Não é exactamente fino (em espessura), mas é uma excelente leitura.

Rita Santos disse...

A única chatice é, como dizes, ser difícil de arranjar :/

joão campos disse...

Podes sempre optar pela tradução portuguesa... coisa que não recomendo. Se encomendar livros em segunda mão na Amazon não for opção, podes sempre tentar na Tema (Colombo). Por vezes consigo encomendar livros mais raros lá.

De qualquer forma, eu logo deixo aqui mais sugestões:)

André Pereira disse...

E toca a meter mais um livro no reader! Ler isto a ouvir Frozen!

Jonathan disse...

Eu tenho este livro, mas em Inglês u.u
Ainda bém que meu inglês é suficientemente bom, pelo menos, para ler *-*