16 de fevereiro de 2012

Foundation



Consta que quando em 1966 foi criado o prémio Hugo para "All-Time Best Series" (o único atribuído até à data), toda a gente pensou ser este um galardão feito à medida para J.R.R. Tolkien e a extraordinária obra The Lord of the Rings. O prémio, no entanto, acabou por calhar a outra trilogia: Foundation.
Isaac Asimov foi - é - considerado um dos "três grandes" da ficção científica, a par de Arthur C. Clarke e de Robert A. Heinlein. Com toda a justiça, diga-se de passagem: as super-citadas "Três Leis da Robótica" são da sua autoria, assim como a série Robot (parte integrante do universo de Foundation), um dos mais famosos contos de ficção científica de todos os tempos (Nightfall) e, claro, Foundation - uma obra que é sem dúvida um dos textos essenciais do género.

A história de Foundation tem início num futuro distante, no qual a raça humana colonizou a espiral da Via Láctea de uma ponta à outra, na forma de um Império Galáctico que se estende por milhões de planetas e governa triliões de pessoas. A capital do Império, perto do centro da Galáxia, é a cidade-planeta de Trantor – e nela vive Hari Seldon, o eterno (e ausente) protagonista da série, o matemático prodigioso que estabeleceu o princípio de que o futuro da raça humana, enquanto observação das massas, pode ser previsto e determinado com precisão através de equações matemáticas. Nasce assim a “Psicohistória”, ramo científico que deu a Seldon e aos seus seguidores a capacidade de ver o declínio do Império, já em curso, e a sua inevitável queda, à qual se seguiriam trinta milénios de barbárie em redor de estilhaços da civilização espalhados entre as estrelas.

Pretendendo alterar o curso da História e reduzir o período de ocaso da humanidade para apenas um milénio, Seldom embarca numa viagem, com todos os seus cientistas, para o distante planeta de Terminus, na orla da Galáxia. E em Terminus nasce a Fundação, uma cidade dedicada ao projecto de elaborar uma “enciclopédia galáctica”, um repositório de conhecimento científico que permitisse à raça humana renascer após as trevas da queda do Império.

Seldon prevê, através da Psicohistória, que a Fundação teria de atravessar várias “crises” ao longo dos tempos. E são essas crises que, em termos de estrutura narrativa, marcam as cinco partes de Foundation: a primeira, em jeito de prólogo, narra a história da partida de Seldon de Trantor e o estabelecimento da Fundação; a segunda parte, intitulada “os Psicohistoriadores”, conta a história da Fundação após a morte de Seldon e a nascente sociedade de Terminus governada pelos seus sucessores; a terceira parte tem o título “The Mayors”, e mostra uma Fundação já governada pelo poder político, e envolvida em tensões político-económicas com os mundos que lhe estão mais próximos à medida que o declínio do Império se acentua e este perde o controlo da periferia galáctica; na quarta parte, intitulada “The Traders”, narra a ascensão do poder económico tanto no interior da Fundação, em Terminus, como na sua expansão para os mundos próximos; e, por fim, a quinta parte da história revela uma Fundação dominada pelo poder económico, que leva a sua influência a vários mundos da orla da galáxia – muito adequadamente, esta parte tem o título de “The Merchant Princes”. Todas estas etapas, que abrangem um período de sensivelmente 150 anos, foram matematicamente previstas por Hari Seldon, que determinou com exactidão a natureza de cada crise.

A história de Foundation não acaba aqui: a série tem um total de sete livros, com quatro sequelas e duas prequelas ao livro original. A Foundation segue-se Foundation and Empire, Second Foundation, Foundation’s Edge e Foundation and Earth; Prelude to Foundation e Forward the Foundation narram os eventos que antecederam a partida de Seldon e o estabelecimento da Fundação. Para além disso, Asimov integrou no universo de Foundation as séries Robot e Galactic Empire, assim como vários contos dispersos - até mesmo o romance Eternity's End acaba por estar, de certa forma, ligado a Foundation. Essas histórias, que eu mesmo ainda estou a descobrir (apenas li os sete livros da série principal), deixo-as à curiosidade do leitor.

(adaptado deste artigo publicado originalmente no Delito de Opinião)

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